sexta-feira, 13 de julho de 2007

Hoje no ponto pra Taquara vi uma mulher de cabelos desgrenhados e olhos tristes, claros mas tristes, tentando conseguir "carona" na van. Visivelmente, pelo modo de falar e se vestir, ela não possuía total equilíbrio mental, porém aquela voz levemente desesperada perguntando a cada um se poderia pagar sua passagem me incomodou de um jeito diferente. Tentei me fazer de desentendido e ignorar aquela cena, mas a expressão em seu rosto ao dizer "como tem gente ruim no mundo" me doeu lá no fundo. Quando chegou minha vez de responder à sua pergunta, disse "sim". Pega de surpresa, me olhou fixamente com aqueles olhos verdes, profundos e de difícil leitura, deixando um pequeno silêncio no ar, interrompido apenas pelas minhas perguntas de praxe: o que você vai fazer lá, quem vai com você, por que ninguém vai te levar, etc.

A mulher, que aparentava uns 35 anos, mas que talvez tenha menos, queria chegar até um hospital psiquiátrico, para conseguir internação. Não quis responder sobre sua família e começou a me olhar desconfiada quando perguntei sobre marido ou filhos. Tentei explicar que estava preocupado, quando ela exclamou um "ih, porque você quer saber?!?", e ficou feliz ao ser convidada a entrar na van. Quando chegamos ao destino, avisei-a que já estava na Taquara e ela me agradeceu com um sorriso de quem quase nunca recebe ajuda, e respondeu com um firme "amém" quando disse Deus te abençoe.

Essa situação me fez refletir muito, tanto no caminho pra cá quanto agora, de frente para o monitor. Quem avalia quão sã é uma pessoa, mentalmente? Quantas pessoas deixam de ajudar as outras por medo daquilo que não conhecem, ou que sabem não seguir um padrão de comportamento? Fiquei pensando se seria correto tirar uma pessoa 50Km do seu lugar de origem, sem ninguém pra acompanhá-la. Será que a família sabe? Ou melhor, será que ela tem família?

Não tinha muito tempo pra pensar na hora, e a única coisa que queria era tirar aquela impressão de que só tem gente ruim no mundo. Queria mostrá-la que ela pode procurar, que mais cedo ou mais tarde pessoas boas a ajudarão. E é confiando nessas pessoas, e grandiosa bondade de Deus, que sei que aquela mulher de cabelos desgrenhados não ficará perdida por aí, mas encontrará a ajuda de que precisa para solucionar seu problema. Seja ele qual for.

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